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Entrevista a Marc Augé (in Expresso)

MARC AUGÉ

“HÁ UMA TAL ACELERAÇÃO DA MODERNIDADE QUE JÁ NÃO SABEMOS EM QUE HISTÓRIA ESTAMOS”

Um etnólogo na grande metrópole, colocando-se na situação de se interrogar a si próprio como indígena, é a imagem que melhor descreve a reflexão antropológica de Marc Augé, que escreveu um livro sobre o metro,
ao mesmo tempo que fazia trabalho de investigação em África. A condição “sobremoderna” da sociedade contemporânea encontra neste estudioso modos de descrição e de análise que desafiam várias disciplinas
Oantropólogo francês Marc Augé (nascido em Poitiers, em 1935) tornou-se conhecido muito para lá das fronteiras da sua disciplina graças a um livro de 1992 onde forjava um conceito que continua a ter uma enorme fortuna: o conceito de não-lugar. Atualmente diretor de estudos da École des Hautes Études en Sciences Sociales (que dirigiu entre 1985 e 1995), o seu projeto é o de uma “antropologia dos mundos contemporâneos”, que interroga as questões da imagem, dos media, da circulação, da identidade, ao mesmo tempo que reflete sobre o próprio trabalho do antropólogo, muitas vezes com uma ironia pouco comum no trabalho científico, de acordo com uma afirmação de Lévi-Strauss, segundo a qual a etnologia é uma atividade que responde a uma vocação. É neste sentido que a antropologia de Marc Augé é, no mais alto grau, uma antropologia crítica, transpondo muitas vezes as fronteiras disciplinares. Esta entrevista foi feita no Oceanário de Lisboa, onde Marc Augé proferiu uma conferência no final de junho. Tratava-se de uma iniciativa no âmbito do Lisbon Consortium, uma realização da Universidade Católica — Faculdade de Ciências Humanas e Centro de Estudos da Comunicação e Cultura da Universidade Católica —, em parceria com instituições culturais da cidade de Lisboa, que tinha como tema “A Performance Cultural das Cidades” e contava com a participação de 50 doutorandos provenientes de 11 universidades europeias. A cidade moderna tem sido o terreno da sua investigação. Ora, o terreno mais comum da antropologia é o contrário deste... A antropologia urbana existe deste há muito tempo, mas é verdade que a origem da etnologia é a etnologia dos lugares remotos, do ponto de vista do Ocidente, e dos pequenos grupos. O que significa que o trabalho de antropólogo é feito longe e a sós, tentando situar esses grupos no seu contexto. O que mudou é que o contexto é hoje global para toda a gente. Como é que passou da observação do outro à observação de nós próprios como indígenas? Não posso falar de duas etapas, mas de uma sobreposição. Sou africanista, de formação, e durante mais de quatro anos permaneci na Costa do Marfim. Depois regressei a França e continuei a ir a África em missões anuais. Foi nessa altura que escrevi “Un ethnologue dans le metro”, que nasceu da questão

(in Expresso 23julho2011)

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